Friday, January 16, 2009

Clarisse buscando a cura.



De tanto Clarisse desejar chegou a se tornar uma espécie de repugnância, sofreguidão.
Ela quis andar de mãos dadas, trocar sentimento de confiança, agir de moda brega e antiga sendo fiel,devota e adoradora.Sonhava com cada beijo que para ela eram muito mais intensos do que qualquer romance francês que assistia tão encantada e desejosa.
Cada beijo para ela surtia como o primeiro, com todo frio na barriga, acalanto e suor.
Isso acontecia por que eu sempre acordava (principalmente quando dormia ao seu lado) totalmente renovada, inundada de uma sinceridade e pureza indispensável no querer, que ficavam ainda mais forte do que no dia anterior. Seu erro foi deixar que mesmo sem que ele regasse o ramo de rosas, o ramo só se tornasse mais forte, mais lindo e maior, sendo capaz ate mesmo de resistir ao sol do desprezo, a chuva do descaso e o vento da sua insensibilidade.
Ela quis cuidar dele, melhor do que a ela mesma. Preparava a casa, o carinho, as portas sempre abertas e o coração sempre bem disposto, sem perceber e a cada episódio de sua vinda só era capaz de me causar tormenta e diluir sua paz.
Fumando seu cigarro pacientemente Clarisse se proporcionava o prazer sádico em observar fotos, escutar músicas, relembrar momentos, ate quase ficar sem ar.
Levou tempo para que Clarisse enxergasse como os momentos foram pouco tão pouco, e como ele jamais seria capaz de lidar com a força do que ela sentia por seu interior por ser amargo e frio demais. E Clarisse reluzia calor e doçura, sem nem ao menos se dar conta disso, pois sua baixa-estima jamais a permitia ver um palmo a frente de seu nariz.
Ele nunca foi, ou seria capaz de surpreendê-la.
Hoje Clarisse sente por ele.
Sente por que ele não pode mais contar os abraços sinceros, os beijos apaixonados,os arranhões, as mordidas de amor, historias engraçadas, preocupação quase que maternal,companhia pra todo o tipo de situação, desejo ardente e pulsante, paixão veemente e desconcertante a que ela devotava.
Clarisse mudou, de forma devastadora, ate mesmo se tronando algo que ela nunca desejou ser, alguém muito mais fria, alguém apenas com desejo diversão, ansiando por bebida gelada, suor, pele, contato, risada, voz, desejos quase que cafajestes, troca de olhares, poucos momentos ate poder evaporar quando lhe for conveniente.
Trauma entendem?
"Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando
Me pego cantandoSem mas nem porque
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando talvez precisar de mim'Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz..."
* Chico Buarque

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